terça-feira, 5 de julho de 2011

PITANGUEIRA
Adail de Bittencourt

Pitangueira, minha amiga
quero escutar a cantiga
dos sabiás destas vertentes,
que cantam sobre teus galhos,
molhados pelos orvalhos
das madrugadas ridentes.

Quero sentir a frescura
de tua sombra, e a doçura
dos teus frutos saborosos,
que me trazem relembrança
dos meus tempos de criança,
dos meus sonhos nebulosos.

Quero sentir minha infância
na delicada fragrância
da flor silvestre e da fruta,
das flautas que a natureza,
com arte e ciência e beleza,
plantou aqui nesta gruta.

Aqui eu recuo nos anos,
esqueço os meus desenganos,
o mal que o mundo me fez.
Aqui ninguém entristece.
O velho rejuvenesce,
o morto vive outra vez.

Aqui não há preconceitos,
nem saudades, nem defeitos,
não há gemidos nem dor.
Não entra aqui o deus-milhão,
o monstro sem coração
que arranca os olhos do amor.

Pitangueira, quem me dera
na próxima primavera
retornar a estes caminhos,
tomar banho nesta sanga,
comer bastante pitanga
ouvindo a orquestra dos dos ninhos.

quinta-feira, 17 de março de 2011